sexta-feira, 26 de junho de 2009

O tamanho e ineficiência do Estado, e a elevada carga tributária brasileira


Editorial de O Globo


“Um Estado pantagruélico, sorvedouro de pouco menos de 40% do PIB, mas que presta péssimos serviços. Os mais de R$ 10 bilhões/ano distribuídos por meio do Bolsa Família podem movimentar o comércio em regiões menos desenvolvidas do Norte e do Nordeste. Mas não geram os empregos que surgiriam se parte desse dinheiro servisse para melhorar a infraestrutura de transportes, por exemplo.
A defesa feita pelo presidente Lula da elevada carga tributária vale mais do que mil teses acadêmicas para comprovar a visão tosca do Palácio sobre o papel do Estado numa sociedade moderna. A relação direta e simplista estabelecida pelo presidente entre tamanho do Estado e defesa da população pobre está contaminada pelo destroçado projeto da esquerda, em que o aparato estatal deveria ser o protagonista na economia, nas relações políticas e sociais.
Levada ao extremo, essa visão de mundo lançou as fundações de ditaduras cruéis instaladas na primeira metade do século XX, responsáveis por dezenas de milhões de mortes — pela fome ou repressão política —, e que terminaram abaladas pela própria inviabilidade econômica daqueles sistemas. Restaram a Coreia do Norte, herdeira patética do maoísmo; Cuba, anacrônico parque temático caribenho de um stalinismo sem futuro; bolsões africanos convertidos em covil de quadrilhas; déspotas em exrepúblicas soviéticas e um punhado de “guerrilheiros? do tráfico em selvas na América Latina.
O Brasil de Lula — que dá mostras de ser um democrata, mas paga um preço por ter sido politicamente formado sob a influência de uma esquerda arcaica — é o que se vê: um Estado pantagruélico, sorvedouro de pouco menos de 40% do PIB, mas que presta péssimos serviços, pois, nos gastos, o governo resolveu dar prioridade à clientela do funcionalismo público — base eleitoral do PT e do presidente — e ao assistencialismo desmedido. Em segundo plano, apesar dos discursos, estão setores que poderiam melhorar estruturalmente a sociedade, elevando seu patamar de desenvolvimento: a educação e a infraestrutura.
Ao criticar empresários por não repassar aos preços as desonerações de impostos, o presidente disse ser preferível dar dinheiro diretamente aos pobres. Engana-se. O que poderia ser feito sem prejuízo do atendimento dos de fato muito carentes. Se todo o apoio verbal à educação se materializasse em recursos, estaria garantido que as próximas gerações não dependeriam mais de esmolas de homens providenciais, protetores dos pobres em busca de votos.
Se os impostos fossem baixos, a população teria melhor poder aquisitivo, haveria mais investimentos das empresas privadas, portanto mais oportunidades de trabalho e renda. O mundo do presidente está virado de cabeça para baixo.

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